quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O Mundo da Vida


O mundo da vida, conceito utilizado por Husserl no intuito de contrapô-lo ao cientificismo predominante no século XIX, é um horizonte temporal onde o homem está inserido, de fato sua labuta e facticidade. Segundo Habermas o mundo da vida é a esfera comportamental da sociedade, vale lembrar que conforme afirma Alessandro Pinzani “A sociedade em questão para Habermas é a moderna e não a sociedade em geral” (2009, p. 97), o convívio entre os pares gera uma esfera social, para Habermas o mundo da vida tem expressão máxima na esfera pública.
De fato o que configura o mundo da vida é o próprio ser, ativo em sua linguagem onde expõe sua condição como sujeito, com sua intenção de validação de uma possível verdade, que doravante esbarra em seus respectivos interesses. Não basta que o homem busque uma emancipação apenas estrategicamente ou instrumentalmente, mas que ela atue em prol de uma meta para o entendimento mutuo. O mundo da vida se caracteriza pela possibilidade de minorias poderem se desvincular do sitio de dominação da normatividade imposta, por que a verdadeira democracia, aquela que pode ser legitimada, fundada no direito é aquela que transcendeu o mundo da vida, aquela que através do agir comunicativo superou a razão estratégica em direção do entendimento.
 Conforme este processo, a saber, do entendimento que legitimou uma validação de verdade através dos participantes interessados, estará dado um enorme passo para uma democracia emancipada, ou seja, legitimada na vontade dos homens. Não obstante, este ciclo da esfera publica não se desfaz com uma possível legitimação do mundo da vida, este não se desfragmenta, ao contrário abre um pano de fundo para novas situações e intervenções para o sujeito cognoscente, exteriorizado na esfera publica que interveem no estado de sitio do direito. Ora, este quando legitimado tende a se sobrepor as demais validações de verdade. Por isso a emancipação será possível com uma esfera pública atuante e de consciência moral, segundo (PINZANI, 2008, p. 39).

A sociedade, como macrossujeito, demonstra-se capaz de reagir aos dilemas morais e aos conflitos sociais tomando uma posição mais ou menos evoluída, isto é, praticamente apropriada e moralmente correta, e também de aprender a desenvolver atitudes que permitem respostas adequadas, assim como ocorre no caso dos indivíduos. O caminho para a emancipação da alienação, intra e interindividual da emancipação do sujeito e da sociedade, passa necessariamente por um aprendizado moral.

Uma sociedade que se autorregula, para os desenvolvimentos culturais e ideológicos, para Habermas este ciclo se dará com o agir comunicativo,

Ora, podemos representar as componentes do mundo da vida, nomeadamente os padrões culturais, as ordens legítimas e as estruturas de personalidade, como adensamentos e sedimentações destes processos de entendimento, de coordenação de ações e de socialização que perpassam o agir comunicativo. O que vindo do seio dos recursos do pano de fundo do mundo da vida, ingressos no agir comunicativo, atravessa as comportas da tematização e possibilita a resoluções de situações, constitui o tronco de um saber comprovado na prática comunicativa.
(Habermas, 2004, p. 107).

O mundo da vida é um conceito que percorre a obra de Habermas, gerando a possibilidade de uma possível comunicação em meio ao grande risco do problema da validação de verdades para sujeitos estratégicos e não comunicativos. O mundo da vida que se estabelece na esfera pública tem por meta validar a pretensão de verdade de uma comunidade vitima do saber estratégico, ora utilizado por mídias ora por outro órgão hegemônico, estes órgãos são comumente referido por Habermas como sistema. Assim como algumas esferas do governo estão alheios ao anseio e necessidade da comunidade, a esfera pública trará a tona tais necessidades para uma pauta deliberativa no intuito de resolver possíveis anomalias exercidas pela colonização do mundo da vida.

Referências:
HABERMAS, Jurgen. Pensamento Pós-Metáfisico,
Editora Alamedina, Coimbra, 2004.

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