O mundo da vida,
conceito utilizado por Husserl no intuito de contrapô-lo ao cientificismo
predominante no século XIX, é um horizonte temporal onde o homem está inserido,
de fato sua labuta e facticidade. Segundo Habermas o mundo da vida é a esfera
comportamental da sociedade, vale lembrar que conforme afirma Alessandro
Pinzani “A sociedade em questão para Habermas é a moderna e não a sociedade em
geral” (2009, p. 97), o convívio entre os pares gera uma esfera social, para
Habermas o mundo da vida tem expressão máxima na esfera pública.
De fato o que configura o mundo da
vida é o próprio ser, ativo em sua linguagem onde expõe sua condição como
sujeito, com sua intenção de validação de uma possível verdade, que doravante
esbarra em seus respectivos interesses. Não basta que o homem busque uma
emancipação apenas estrategicamente ou instrumentalmente, mas que ela atue em
prol de uma meta para o entendimento mutuo. O mundo da vida se caracteriza pela
possibilidade de minorias poderem se desvincular do sitio de dominação da
normatividade imposta, por que a verdadeira democracia, aquela que pode ser
legitimada, fundada no direito é aquela que transcendeu o mundo da vida, aquela
que através do agir comunicativo superou a razão estratégica em direção do
entendimento.
Conforme este processo, a saber, do
entendimento que legitimou uma validação de verdade através dos participantes
interessados, estará dado um enorme passo para uma democracia emancipada, ou
seja, legitimada na vontade dos homens. Não obstante, este ciclo da esfera
publica não se desfaz com uma possível legitimação do mundo da vida, este não
se desfragmenta, ao contrário abre um pano de fundo para novas situações e
intervenções para o sujeito cognoscente, exteriorizado na esfera publica que
interveem no estado de sitio do direito. Ora, este quando legitimado tende a se
sobrepor as demais validações de verdade. Por isso a emancipação será possível
com uma esfera pública atuante e de consciência moral, segundo (PINZANI, 2008, p.
39).
A sociedade, como macrossujeito, demonstra-se capaz de
reagir aos dilemas morais e aos conflitos sociais tomando uma posição mais ou
menos evoluída, isto é, praticamente apropriada e moralmente correta, e também
de aprender a desenvolver atitudes que permitem respostas adequadas, assim como
ocorre no caso dos indivíduos. O caminho para a emancipação da alienação, intra
e interindividual da emancipação do sujeito e da sociedade, passa necessariamente
por um aprendizado moral.
Uma sociedade que se autorregula,
para os desenvolvimentos culturais e ideológicos, para Habermas este ciclo se
dará com o agir comunicativo,
Ora, podemos representar as
componentes do mundo da vida, nomeadamente os padrões culturais, as ordens
legítimas e as estruturas de personalidade, como adensamentos e sedimentações
destes processos de entendimento, de coordenação de ações e de socialização que
perpassam o agir comunicativo. O que vindo do seio dos recursos do pano de
fundo do mundo da vida, ingressos no agir comunicativo, atravessa as comportas
da tematização e possibilita a resoluções de situações, constitui o tronco de
um saber comprovado na prática comunicativa.
(Habermas, 2004, p. 107).
O mundo da vida é um conceito que percorre a obra de
Habermas, gerando a possibilidade de uma possível comunicação em meio ao grande
risco do problema da validação de verdades para sujeitos estratégicos e não
comunicativos. O mundo da vida que se estabelece na esfera pública tem por meta
validar a pretensão de verdade de uma comunidade vitima do saber estratégico,
ora utilizado por mídias ora por outro órgão hegemônico, estes órgãos são
comumente referido por Habermas como sistema. Assim como algumas esferas do
governo estão alheios ao anseio e necessidade da comunidade, a esfera pública
trará a tona tais necessidades para uma pauta deliberativa no intuito de
resolver possíveis anomalias exercidas pela colonização do mundo da vida.
Referências:
HABERMAS,
Jurgen. Pensamento Pós-Metáfisico,
Editora
Alamedina, Coimbra, 2004.
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